sábado, 19 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cabine DR...primeiros esboços







Materiais para a construção da cabine DR

1 compensado de 15 mm
4 cabos de enxada
6m de sarrafo agreste
3m de tecido de algodão com 1,4m
4m de tubo pvc de ¾
4m de tecido de algodão vermelho com 2,20m
2m de courino vermelho
2m de espuma de 5 cm
2 almofadas de coração
1 mp3 player
1 caixa de som

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Links...

Este é o site da exposição: www.sophiecalle.com.br

Este é o Blog onde o público participa com respostas poéticas à partir da exposição:http://blog.sophiecalle.com.br/

Este é o blog do Videobrasil: http://blog.videobrasil.org.br/

A carta...

Sophie,

Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último email. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.

Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.

Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a

angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”.

E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando.

Jamais menti para você e não é agora que vou começar. Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.

Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.

Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide de você.

X

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sophie Calle sintetiza elementos da arte

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 16 de agosto de 2009.

Em mostra no Sesc Pompeia, francesa aborda fim de relação e utiliza múltiplos meios, expressões e procedimentos.

Quando, nos anos 1960 e 1970, artistas passaram a misturar arte e vida em performances, seja trancando-se por cinco dias num armário da faculdade, como Chris Burden, em 1971, seja masturbando-se embaixo do tablado em uma galeria, como Vito Acconci em "Seedbed" (cama de semente), de 1972, havia a busca pela veracidade na recusa pela representação. Assim, naquela época, os artistas da performance substituíam a ficção pela experiência.

Essa tradição da performance pode enganar aqueles que visitam a mostra "Cuide de Você", da artista francesa Sophie Calle, em cartaz no Sesc Pompeia, criada originalmente para ocupar o pavilhão francês na Bienal de Veneza, em 2007.
"Cuide de Você" são as últimas palavras de um e-mail enviado pelo então namorado de Calle, o escritor Grégoire Bouillier, terminando a relação com a artista. Calle, como para se vingar da maneira abrupta como foi comunicada do fim do romance, convocou 104 mulheres, duas marionetes e uma papagaia para interpretar a carta, cada uma segundo sua especialidade: uma advogada, do ponto de vista jurídico; uma linguista, do ponto de vista gramatical, e assim sucessivamente.

A exposição, em sua versão paulistana, traz 83 desses testemunhos, como o da papagaia Brenda, que come o papel com o e-mail e fala o mote da exposição, "cuide de você", ou da vidente que interpreta a mensagem em cartas do tarô: "Essas são as palavras de um homem infeliz, por causa do Eremita".

Esses dois exemplos são suficientes para exemplificar o tom sarcástico da exposição, que poderia ser vista apenas como um manifesto feminista, afinal somente mulheres interpretam a mensagem do ex-amante. No entanto, ao contrário das performances que se afastavam da representação, a trajetória de Calle aponta que a artista costuma jogar com os limites entre real e ficção, como quando pediu à sua mãe que contratasse um detetive para segui-la (em 1981, com "Perseguição").
Ora, sabendo que seria perseguida, a própria artista poderia conduzir o investigador. No entanto, o que interessava aí era revelar um processo, apresentando tanto os registros fotográficos feitos pelo detetive em confronto com suas próprias anotações.

"Cuide de Você", portanto, pode ser vista como uma grande encenação a partir de um fim de caso. Vingança, revanche? Será o e-mail verdadeiro?

De fato, isso tudo pouco importa, já que ao final a mostra acaba por reunir alguns dos principais elementos da arte contemporânea de forma invisível, e aí está seu grande mérito. Seja pela multiplicidade de meios (fotografia, vídeo, texto), expressões (dança, teatro, performance) e procedimento (apropriação, colaboração), Calle criou uma das mais representativas instalações atuais. A artista dá a impressão de estar apenas abordando um tema, quando no final, o tema é uma excelente estratégia para seduzir o visitante no universo da arte contemporânea.